wonderbóia e os heróis intergaláticos.

Thursday, March 29, 2007

 

você estava certo.

ainda é cedo, amor
mal começaste a conhecer a vida,
já anuncias a hora da partida
sem saber mesmo o rumo que iras tomar.

preste atenção, querida
embora eu saiba que estás resolvida,
em cada esquina cai um pouco tua vida
em pouco tempo não serás mais o que és.

ouça-me bem, amor
preste atenção: o mundo é um moinho,
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
vai reduzir as ilusões à pó.

preste atenção, querida
em cada amor tu herdarás só o cinismo
quando notares estás à beira do abismo
abismo que cavastes com teus pés.


agora o cartola faz sentido. pode vir me trazer muffins, robin, quando eu conseguir parar de chorar.

Wednesday, March 28, 2007

 

senhoras e senhores

eu admito que estava completamente errada.
é tudo a mesma coisa;
e cantarei ao sol.

 

yoswmbtano.

anemia faz do mundo um lugar muito mais psicodélico. meu quarto sobe como um elevador, na direção do céu, que se estica ao infinito como plástico azul, e minhas pernas tremem. logo estarei entre estrelas e planetas inabitados, tendo diálogos seriíssimos comigo mesma sobre a práxis mercantil e o existencialismo e as pernas das bailarinas degasianas.
juro.
contudo, como o espaço sideral está demorando a chegar (o que, de uma modo ou de outro, realmente faz algum sentido), passarei minhas horas seguintes lendo coisas e fumando cigarros felizes. é. sem paranóias, sem confrontos conjugais, nada.
ciao.

Sunday, March 25, 2007

 

your pale blue spaceship

eu gostaria que a as gotas escuras de chuva que a charlie desenhou no meu guarda-roupa de repente recebessem aquela centelha que concebeu isobel e se tornassem reais. meu quarto se transformaria em um aquário de nanquim, com peixes de penaenanquim dando saltos ornamentaisespiraladosmágicos, e eu navegaria na minha cama, ou em um barco de papel (na cama seria melhor já que sou uma convalescente e além disso nem sei fazer barcos de papel que vergonhoso não?).eu navegaria como um marujo, cuspindo palavrões e tropeçando em galáxias inteiras só para depois encontrar vostok 1 e, lá dentro, o herói intergalático com seus imensos olhos refletindo as estrelas como televisores, imerso em pensamentos matemáticos, tentando provar que bukowski estava errado.

Friday, March 23, 2007

 

as aventuras do aquecedor de aimée

marcel duchamp espirala no meio da escuridão, perguntando, malicioso como um anjo deformado, faut-il mettre la moelle de l'épée dans le poil de l'aimée? e, sinceramente, não podemos responder -- mas as penas de travesseiro se acumulam no chão e ela pensa que são do cisne: ainda não, querida, como ousaríamos?
não ousaríamos.

no mais, o meu tempo dobra-se, fino como papel, e se esconde em diminutas cabeças de alfinete, dançando enquanto tento me virar para fazer as mil coisas que preciso fazer por dia, além de assistir filmes e cuidar da minha gripe (eu consigo ver todos os micróbios fazendo festinhas sexuais entre as minhas apreensivas amígdalas, ao som de música dodecafônica). infelizmente nos movemos em ritmos diferentes e tudo dá sempre premeditavelmente errado.

mas o aquecedor de aimée, a cada dia mais perto do sol, enrubesce e derrete tudo ao redor. apenas algumas gotículas de luz sobrevivem, mas ainda assim, não com muito glamour. e há felicidade: abre os braços, ou melhor, as asas, faça-se a luz, paradise me now.


(um dia explico tudo.)

Monday, March 19, 2007

 
eu costumava ser muito mais expressionismo alemão. <3

 
eu trocaria a Nina de dezoito anos (alegre, uma noiva petulante sobre um bolo de casamento, uma fruta madura numa árvore tipicamente tropical, gorda, burra, alienada e completamente feliz) pela Nina de dezesseis anos (depressiva, reclamona, sarcástica, chorona, suicida, que desenhava olhos cegos em diários mofados, um pássaro numa gaiola, a rabbit in your headlights com sonhos impossíveis, braços em retalhos e um dia de neve) a qualquer dia da semana.

 

assim falou Nina T. (em 2005, debaixo de uma chuva de úmidos pássaros azuis e aquarelas malfeitas), ou apenas uma referência história bobinha.

boredom.
lição de matemática me esperando.
coisas querendo ser escritas.
polly canta:"oh my lover
my sweet cherry pie—"
polly, a bulímica viciada em maquiagem que bate a cabeça em paredes.
bjork, a que tem muito dinheiro para estilistas, e que poderia se arrastar pelo deserto usando sua saia comme-des-garçons toda suja e empoeirada.
vincent, o rude.
matthew, o hot former football player.
thisrepulsivecelebritydoubledatehasbeenb roughttoyoubythechurchofthelatterdaysain ts.
lalala.
I forgive you boy
but—don't leave town. don't be so very far.
"you, me and everything caught in the fire."
tédio.
boredom.
tédio.
bukowski me condena.
e a lição de matemática—seja lá o que for—ainda me espera.
and it doesn't make me smile.

 

all drenched in milk and holy water

posso sorrir agora só porque eu descobri que costumava ser eterna -- os meus braços eram lânguidos e despadaçados e os dias repetiam-se e repetiam-se entre ohs e ahs de dores cardíacas, e as roupas no varal, os gritos que saíam em cápsulas coloridas e que, oh, a casualidade, ninguém percebiam ser gritos e não lascivos cantos.

oh, yes, you can kick me and you can punch me, but you can't change the way i feel -- because i love you.

eu me perdia em jubilee line, seguindo o Coelhobranco desde picadilly até fulham road, as últimas flores até o hospital, e nada: o silêncio de mãos dadas com pierrot le fou, que chorava. tudo se desfazia em ruídos, as cortinas, como as da rua baker, permaneciam autênticas sonhadoras baratas, mas eu era inquebrável; agora, o castelo da cartas vai ao chão com um suspiro.

i forgive you boy
but -- don't leave town.

quando foi que eu me tornei esta sombra?

Sunday, March 18, 2007

 

only happy when it rains

algum dia vou acender cigarros um-a-cada-hora, olhar para o mundo sem maiores palpitações e escrever como antigamente. estórias, acho que me lembro; começo, meio e fim. sim: algum dia. mas, por ora, sou apenas uma maldita autômata descontrolada, devorando livros com uma colher de plástico azul e desempenhando papéis amalucados, pulando de janelas, acendendo vagalumes com fósforos, blablablá.

a parte ruim é que eu só sei criar quando tenho alfinetes perfurando meu coração e todos os outros órgãos. não é masoquismo, juro, é só que, bem, eu preciso estar constantemente triste para escrever coisas decentes.
do contrário, tudo converge para um lindo pôr-do-sol.
do contrário, Theodora terá um final feliz na companhia daquele imbecil Pierre.
do contrário, os fantasmas desfazem-se como esculturas de açúcar.

pode dizer, eu sou uma tremenda idiota.

 

everyone inside the mechanism is yearning to get out

um milhão bilhão trilhão de páginas para ler sobre história da arte, mas -- ora, o fovismo é tão bruto para os meus delicados ombros de alfenim que já não suportam mais o peso do mundo, pois me transfigurei em Atlas nos últimos tempos. agora meus braços são azuis e minha criatividade morreu, como aquela velha libélula -- que, acho eu, ressucitou: não consigo encontrá-la em lugar algum.

e o resto continua em pura estática outonal (acho):
K. rondando o castelo como uma mariposa ao redor de uma lâmpada, atirando-se contra o vidro sem nunca conhecer o calor;
Ezra Pound sentado na cama, perguntando e perguntando, e pedindo meio quilo de carne;
a mobília de cabeça para baixo em repouso, depois de uma adorável tarde de boogie woogie.

eu falaria sobre montanhas gêmeas de marshmallow e chocolate tremelicando sob o sol apagado e os úmidos ataques de bem-intencionados monstros, mas o único ponto é que eu sempre perco as coisas quando saímos juntos. só isso.

e, a Miu Miu, o Senhor Gato Irlandês, só digo que continuarei, sim, seguindo o roteiro. e adorei as palavras de alcaçuz enfeitadas com fitas e glacê. precisamos no falar mais. <3

voilá c'est tout.

Tuesday, March 13, 2007

 

nova obsessão musical de segunda à noite

os olhos caídos, as imensas moscas dançando ao som de caixinhas de música ao pousar em cadáveres e francie no trompete, planejando a próxima grande queda.
carolina olha pela janela, para o horizonte inexistente (como em um faroeste) e sofre pelas bailarinas de plástico, o rádio e a bomba atômica, todos engolidos pelo fogo, oh -- que coisa. mas frank sinatra tem asas forjadas e uma ótima garganta, então nada pode ser tão ruim assim.

caham.

where are you?
where have you gone without me?
i thought you cared about me.

where are you?
where's my heart?
where is the dream we started?
i can't believe we're parted.

what had we to gain
when i gave you all my love?
was it all in vain?

all life through
must i go pretending?
where is my happy-ending?

where are you
when we say goodbye, love?
what had we to gain
when i gave you all my love?
was it all in vain?

all life through
must i go pretending?
where is my happy-ending?

where are you?
where are you?

Sunday, March 11, 2007

 

tarde alegre de domingo, sabiás-laranjeira na janela, sorvetes derretendo sobre pés em calçadas.

aérea & náutica, oh, vida, oh, infortúnio, oh -- então minha mãe entra, grita o slogan da Vacaláctica e o placar do jogo que eu nem ao menos sabia que estava acontecendo, fecha a porta e corre para o quarto, toda oi-tenho-dez-anos-de-idade-e-sou-feliz-assim. hum.


é genético. pelo menos eu sei que não sou adotada.

 

my love is as sharp as a needle in your eye

no dia mais chuvoso do ano, me encontro aérea e náutica, como o sol afogando-se em copos de dry martini e os jubilantes maiôs de uma peça, vermelhos laranjas amarelos limões abacaxis e acerolas, em cruzeiros. sou previsível como bolhas de champagne libertando-se do cristal e explodindo sem lágrima alguma; a cada dia fico mais fútil.
a felicidade emburrece mais do que comerciais de pasta de dentifrício, perdi toda a capacidade daquelas reflexões dramáticas e exageradas, quase simbolistas, quase impressionistas, das dores do carnaval passado. nenhuma serpentina, mas litros de cinismo e a maldita fissura ôntica. era quase legal.

oi, olha, me desculpa, mas hoje é domingo, e domingo é dia de suicídio.
(mesmo figurativo: entenda-me, domingos nunca mudam.)

você vai continuar sendo esquisito e eu vou continuar do teu lado, daqui até ali, dali até logo.

Saturday, March 10, 2007

 

oh, mio rimorso, oh, infamia

grande novidade.
eu já sabia que isso ia acontecer porque é o protótipo do clichê dos filmes de sessão da tarde. imagine-me engolindo cada manifestação cardíaca, afundando o rosto no travesseiro, a virginal fronha branca sendo rasgada pelos meus dentes e lágrimas de vidro enquanto repito, oh não oh não oh não oh não -- etc.
pois é.
oh, remorso.
grande novidade.

 

bless me father, for i have sinned

tudo o que é sólido desmancha no ar e eu soprei o castelo de cartas, assassinando toda a corte, todos levados para reinos de nuvens no hemisfério morte. digo, norte. olá, bom dia, que lindo dia não, sim, por supuesto, lindo dia, e ainda nem mencionei que passarei o resto da eternidade cometendo carnificinas com a realeza porque não posso mais sair de casa.
não, não é tuberculose, lepra, espinha bífida oculta, porfiria, resfriado, espinha na ponta do nariz. nada disso.
estou de castigo para sempre e as horas se recusam a passar, agarrando-se ao chão e as paredes com garras inquebráveis e dentes falciformes de diamante, olhando ao redor com olhos de arlequim que nunca piscam, todas as vinte e quatro de mãos dadas.

tic-tac-tic-tac-tiiiiiic-taaaaaaac-ti-i-i-i-ic ---

ad infinitum. só porque sou má.

(enquanto isso, caridad-claridad alivia suas dores roçando as pontas gêmeas contra um coração, e as mãos contra a lança que se revolta.)

Wednesday, March 07, 2007

 

i am sorry that i'm stupid.

you say, "you lie to me and i believe you", oh no: that's me. i've heard a thing or two 'bout you -- romance, a word untrue; echo. bewitch me now, vibrate and shake and walk away, like you do every time.

Tuesday, March 06, 2007

 

grumph

eu não deveria ter voltado para casa hoje. deveria ter me escondido entre as estantes-ambulantes (minto, não são ambulantes: são móveis. elas deslizam como patinadoras sobre gelo pela biblioteca atirando a alunos pesados livros como quem atira flores), com o oswald e mulher aquela dos poemas minimalistas, falando sobre dias verdes de verão e pipas errantes voando sem dono.
pois é, um threesome literário, exatamente.
algo assim.

mas voltei e não posso dar telefonemas e não posso abrir a janela e não posso fazer nada a não ser ler como uma maluca sobre o existencialismo. não que seja ruim.
anyway.

Monday, March 05, 2007

 

she said, come and fly away with me tonight

ela estava morta na escada, como uma santa odonata, entre cânticos pagãos atirados a nuvens vazias e preces pisoteadas por scarpins gucci. então segurei seu corpo frágil com as duas mãos, as asas ainda brilhando sob as luzes fluorescentes, e a levei comigo. pobre libélula defunta, uma pintura trágica, quase invisível, à qual ninguém dedicaria um minuto de atenção. nem mesmo o grande cirurgião doutor hortelã, senhor, agora finado e enterrado (tardiamente), poderia trazê-la de volta.
não, muito menos ele, maldito seja, que o diabo o carregue -- e toma de blablablá.

pois bem: agora, além dos insetinhos sobre as páginas, tenho uma encantatória libélula descansando em paz ao lado de um pote de purpurina, tremelicante a cada bloco de ar atirado pelo ventilador.

seria maldade demais com a defunta se eu roubasse suas pequenas asas durante a madrugada para ir te visitar?

Friday, March 02, 2007

 

misery rejoices when you're near and fever.

[metáfora que ninguém vai entender]

your perfume haunted me long after you saw the swing of heaven's gate open in toward you.

[/metáfora que ninguém vai entender]

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