wonderbóia e os heróis intergaláticos.

Wednesday, January 31, 2007

 

chamem o doutor hortelã.

eu não me sinto muito bem.

Monday, January 29, 2007

 

in the singing box

a menina do maluca do glitter finalmente ganhou um nome: "Theodora" -- porque odeio colocar nomes comuns como mariana, júlia, daniela, nas minhas queridas meninas esquisitas, não sei, não me caem bem, tenho dor de cabeça e desmaio.
além disso, Theodora, a louca, tem uma sonoridade mágica.

e o menino das escápulas aladas se chama Pierre, a fim de que nunca esqueçamos que metade de sua família mora na França.



agora torçam para eu não entrar no mau caminho e deixá-los jogados por aí como bonecas e corações velhos. *grin*

 

a navalha de Occam

tudo está mais claro agora.
não vou desatar nó algum. (:

 

the innocent are dreaming, as you should, sleepyhead

me recuso a ir dormir enquanto Melissa pensa em necrofilia ao lado do monstrembaixodacama, Matt flutua no limbo, Vanilla quebra os móveis e Glitter continua sozinha, sendo uma bulímica emocional. por outro lado, estou tão sonolenta que minhas luzes se apagam lentamente, o vestido no cabide de repente ganha vida e dança por si só, e não consigo raciocinar o bastante para resolver os nós das vidas das minhas queridas marionetes.

(abram alas para Nina Trevor, a que manipula as linhas sem saber o que fazer com elas.)

já me basta o meu próprio nó, por hoje, serpenteando diante dos meus olhos, implorando-me, oh, céus, desate-me que a vida me dói tanto.
e etc, etc, boa noite.

Sunday, January 28, 2007

 

enfim.

hoje é um dia em que ninguém quer falar comigo, e vice-versa. a luz pisca e eu teria ficado melhor tomando chás de vento com a pantera cor-de-rosa, depois de ter costurado nela um coração de zebra.
mas também, eu não deveria nunca pensar na primavera.

Friday, January 26, 2007

 

apenas um lembrete literário

todas as crianças têm olhos como os de matt.

 

cultivando esperanças em terreno alagadiço

o ideal seria se todas as nuvens de algodão se reunissem no céu, roçando-se umas nas outras até produzirem gigantescas faíscas elétricas, e derretessem de amor pluvial, inundando a cidade toda, forçando todos a encolherem-se sob árvores e toldos, enquanto peixes de aquário e patos de banheira ocupam as ruas. melissa sairia pela janela, nadando com suas mãos brancas e seu colar de pérolas falsas e encontraria matt navegando em sua cama. melissa & matt confeccionariam asas com as penas do travesseiro e voariam para longe, para além do espaço-tempo, para um lugar onde as horas pendurariam-se no ar como jóias, congeladas e brilhantes, e nada de mal poderia acontecer.

(mas está fazendo sol. a vida é uma droga. veja o sol, como um milagre astronômico, secando as poças de lágrimas da pobre melissa, tingindo-a de dourado, fazendo-a viver novamente, enquanto matt é um imbecil sonhando com flores ejaculantes e escovas de dente automáticas.)
a vida é uma droga.

 

and you still want me.

tenho passado os dias todos dentro do meu quarto, sem acender as luzes e sem abrir a janela, mofando como um fantasma inglês do século xix que mantém os olhos sempre brilhantes como se recém-polidos, e ainda sente nas entranhas a cidade se movendo lá fora, os trens entrando e saindo dos tubos como balas de revólveres de brinquedo. tédio. boredom. paisagens estáticas, folhas nas árvores, um vento impotente que nem se interessa mais em levantar vestidos vermelhos, e vestidos de bolinhas, e vestidos azuis, e vestidos floridos, e new age tocando ao fundo. argh.

mas terei um motivo pra sorrir, no próximo fim de semana, quer dizer, talvez, quer dizer, espero.
porque é tão fácil cometer um erro fatal, não é?
mas não faz mal.

Wednesday, January 24, 2007

 
então está bem: acho que vou fazer um bolo, ouvir Professor Pez, viajar na velocidade da luz, ler como uma louca (exceto dostoiévski, nabokov e bocage), escolher uma roupa sóbria e não pensar mais nesse tipo de pirotecnia ilusória, sempre um coelho asmático me olhando sem piscar.

 

i will never be happy again

8.30 am

já não agüento mais ter esses pesadelos tão bonitos, giratórios e purpurinados como carrosséis, e tão lindos, tão lindos que me fazem chorar assim que acordo, tão doces que me fazem sangrar pelo simples fato de serem utópicos como príncipes morcegos, senhores choquelétricos, estrelas fumacentas atirando-se todas contra um mesmo telhado naquele bairro idoso. o telhado que guarda um quarto com duas portas, uma para o jardim, outra para o corredor. a do jardim é tão minha quanto a caixa de pandora; só eu posso abrí-la. tudo de mal aconteceria, mas now i don't care, i could go anywhere with you and i'd probably be happy, tão feliz quanto ontem com a charlie, entre milkshakes gigantes, crianças ricas, telhados de vidro e músicas bonitas.

eu ainda estou aqui.
para onde mais eu poderia ir?

Sunday, January 21, 2007

 

"perfeição poderia ser escrita com seis letras" ou melhor, "the hunter's kiss"

capítulo 1 -- a sad story about a deer and a man.

não tinha nada faltando no dia em que eu morri. (happy anniversary, i've never really known you, mr. peppermint man.)

Saturday, January 20, 2007

 
tá, vou lá abrir as janelas, dançar na frente do espelho, rir do vizinho gritando com o próprio cachorro, lamber as estrelinhas do papel de parede como se fossem de belém, sabe, essas coisas que as pessoas fazem no fim de semana.

 
já sei: estou indo longe demais. é que cheguei em um estágio de sono tão avançado que minhas sinapses estão farfalhando como fogos de artifício.
eu só queria dormir um pouco, chuif-chuif.

 
alô alô, nave-mãe, os humanos etsão aqui todos mortos, olhando para as próprias pat -- quer dizer, pés, e babando uma substância amarelada como bile.
podemos iniciar a invasão.

 
mas assim, não quero alarmar ninguém, mas na verdade sou uma criança extraterrestre de sete anos. eu faço marshmallow derreter com o poder da minha mente e coleciono coisas bobas só pra jogar tudo fora depois, e sentir alfinetes de cabeças coloridas entrando cada vez mais fundo no meu coraçãozinho. é tão divertido.

 

let's begin now.

parece que eu não durmo há meses. minha cabeça sonolenta inventa dialetos e palavras novas por pura justaposição, sempre uma cor nova para cada letra. e não consigo parar de pensar em circos e bailarinos performando nas sarjetas e gatos usando botas de caubói para sapatear e apenas isso. todos os probleminhas se foram pelo ralo esta manhã, veja você.

e Ladrões de Bicicleta é o filme com o final mais triste do planeta, aquelas lágrimas eram tão verdadeiras que molharam até a minha camiseta. e Estrada da Vida é uma outra versão da minha própria vida. e O Pequeno Soldado é simplesmente sarcástico e perfeito, adoro franceses fazendo voz em off. são o único povo que deveria poder usar voz em off, porque todos no planeta soam mal, menos eles.
(e foi isso o que preencheu minha madrugada com olhos refletindo cenas monocromáticas, sem piscar.)


me sinto a única pessoa viva do planeta, no momento, desculpe dizer.

 

mas, ao menos

você voltou a sorrir. <3

 

it goes on.

e, tardiamente, os dias bonitos vêm para todos. sonhos impossíveis se tornam tão reais quanto edifícios de concreto, meninas lindas sorriem de novo, se olham no espelho, depenam travesseiros para confeccionar novas asas (para ir a milhares de galáxias desconhecidas, visitar sistemas de estrelas binários, a via láctea e suas vacas dançarinas e cancan, e além), e gelsomina toca seu tambor.
mas eu tenho medo de ficar aqui para sempre, sendo atormentada por fantasmas feios vomitando palavras eternas, já conhecidas.

e das bocas se abrindo para exibir dentes amarelos, doentios, e das risadas ecoando no meu crânio tempestuoso.
e de todos os olhos opacos olhando na minha direção, maliciosos.
(juro que eu tenho calafrios só de pensar.)

this story is old, i know, but it goes on
so tell me how long before the last one.

uma lobotomia sabor uva me iria muito bem, agora.

Tuesday, January 16, 2007

 

the most boring story told

Lacey acordou no meio da noite, com violáceos dragões feitos do mesmo frágil tecido das nuvens de chuva devorando seus sonhos com dentes afiadíssimos. sentou-se na cama, ainda um pouco bêbada do doce líquido onírico, que há pouco a envolvia como em um útero, e olhou ao redor com cuidado -- pois era tão fácil cometer um erro fatal. maquiou-se (de modo que parecia uma criança que roubara os cosméticos caros de sua mãe), colocou seu mais lindo tutu de menina-bailarina, botas pretas de caubói, e saiu.

(fechou a porta com cuidado, para não acordar os mortos.)

não havia ninguém na rua, ninguém nas casas, ninguém dizendo nada. Lacey andava sorrindo de leve, apesar da escuridão. queria ver algo bonito que a fizesse chorar tanto até que não existisse mais, até que se resumisse a um pedaço de vento, uma semente, do pó ao pó. mas nada acontecia, dava milhares de passos, olhava para todos os lados, e para dentro das casas através da janela, para o chão e para o céu e tudo o que via eram carros passando ao longe, gatos vadios, estrelas mutiladas, e começou a se sentir tão tão mal. de repente as camadas celestes se desencontraram, como peças erradas de um quebra-cabeça e começaram a cair em pesados blocos de escuro, com o som das bombas nazistas. Lacey deu meia volta e saiu correndo de volta para casa, desviando das partes que caíam cada vez mais perto.
subiu as escadas correndo, tirou as botas e olhou pela janela. os pedaços caídos derretiam como gelo, molhando de orvalho a grama, o asfalto, os carros estacionados. o céu, com os últimos cacos pretos descascando devagar, oscilava entre o púrpura, o azul, o laranja e o amarelo-canário. Lacey sorriu, um pouco contrariada, deitou-se, dormiu e sonhou que era o messias da nova era, com uma coroa de espinhos só sua e as mãos sangrando xarope de morango.

Monday, January 15, 2007

 

a performance da mulher tombada

querido blógue.
hoje, voltando da sorveteria, após devorar, como um monstro, um inocente picolé de uva, fiz a perfomance da mulher tombada. sim, oh, sim -- me joguei no chão no meio da rua, à vista de qualquer um que quisesse ver. então me levantei com aristocracia, tirei o pó dos braços, e voltei a andar, sorrindo, como se estivesse a caminho de uma tarde de chá com a rainha (que, por sinal, adora meus sapatos).

posso morrer feliz, agora. de verdade.

 
3.55 am

eu seria uma ótima enfermeira noturna.

Sunday, January 14, 2007

 

ok, decidi.

para manhãs ensolaradas de domingo, entre uma colherada de cereal e outra, enquanto os répteis gigantes preparam-se para destruir a (já destruída) cidade, o melhor é ouvir trouble in mind da nina simone e cantar bem alto, gesticulando com os braços como se fossem milhares de tentáculos.

 

la vie en rose.

a vizinha está lavando o quintal e conversando alegremente com a cachorra, que escuta com o maior interesse do mundo. como é bom passar a noite inteira acordada e ainda pegar um trechos da manhã, os pássaros loucos da vizinhança desafinando como apitos, o céu pálido de sono, e as madames falando alto sobre a afilhada do irmão da outra que foi passar as férias na praia, e imagine só, está pegando a maior chuva.
enquanto isso escuto à edith piaf melancolicamente exalando dores como doces perfumes e vejo fotos de fantasminhas, com seus lençóis esgarçados recém-lavados, brilhando fluorescentes diante da lente e até fazendo glamourosas poses, em cemitérios floridos e janelas.
adoro manhãs.

e as fitas coloridas que amarrei na janela dançam com o vento ao som de piaf.
e a vizinha derruba cadeiras na cozinha.
(e as putas se vão com as estrelas, etc.)

 

bukowski says it best.

eu não consigo ver nada - charles bukowski

eu não consigo ver nada, apenas bundas de cachorro e
estrelas mutiladas
eu gostaria de me aventurar
na esperança otimista
não apenas da sobrevivência humana
mas também da sobrevivência do pensamento
humano, e música e arte e pinturas e
história
mas sabe, é como uma dica interna que eu peguei
de uma fonte interna
eu vejo tudo se arrastandos
e transformando em carne queimada
van goghs aleijados implorando por centavos de
loucos aleijados, --
algo nesse sentido, --
tudo esmolando e hesitando
através da terra tremelicante
passando pelos vales
a estrela
os condenados e a nenhuma risada da
audiência que aplaude.

sabe,
tudo o que chegou a esse ponto
é tudo o que merecemos.

a escuridão é vazia;
a maioria dos nossos heróis estava
errada.

Saturday, January 13, 2007

 

amor é isto:

estou maluca polindo a aliança de namoro que encontrei perdida no meio da rua enquanto tomava um sorvete gigantesco com a charlie (que se suja como se tivesse cinco anos e patos de borracha cantarolando dentro do crânio operetas italianas), provavelmente fruto de uma discussão dramática, com lágrimas de vidro estourando nos paralelepípedos e sonhos despedaçados como pratos antigos.

agora tenho um coração quebrado dentro de uma caixinha de metal azul, é a coisa mais bonita do mundo.

Friday, January 12, 2007

 
esse meu mau-humor ainda vai me causar sérios problemas judiciais, tenho certeza. meu estômago é agora palco de um cruel sapateado de diminutos elefantes usando salto alto e tenho vontade de rasgar todos os papéis perto de mim e então comê-los num ato canibal (sim, canibal, porque me refiro às minhas asas de papel, e coisa e tal).
linda sexta-feira.

 
olá olá, estou enlouquecendo, dá pra perceber?

 

when you wish upon a star.

me leve embora, estrelinha, com suas asas forjadas de anjo de procissão. aqui é tão feio e tão triste, todos os dias são iguais e as pessoas dizem sempre a mesma coisa (como robôs malfeitos), hoje, por exemplo, o dia passou sem maiores manifestações, como o fazem os produtos na esteira do supermercado.

eu sei que estou me repetindo, mas, oh, etsrela-estrelícia de belém, se você estiver aí, em uma nuvem esgarçada, tomando chá com suas bonecas favoritas, por favor, desce desce e me tira daqui.

 

i'm all alone at midnight and my lamp is burning low. ain't never had so much trouble in my life before.

nina simone sabe de tudo, entre um cigarro e outro e os bemóis e sustenidos do piano a refletir as notas flutuando como bolhas de sabão.

 

it breaks my heart each time you...

voltei a ser uma loira homogênea novamente. que bom. ainda bem.

mas essas risadas altas me matam. suas mentirinhas se proliferam e multiplicam como doces e multicoloridos micróbios em experiências de aula de biologia e paredes de hospitais: todos estão apenas brincando quando falam em flores e bomboms, eu sei, é como no filme com cillian murphy.

mas é sempre bom enquanto dura.

Thursday, January 11, 2007

 

classical music emergency.

quero alguém que ame tudo do gershwin comigo, destaque para todos os dezesseis minutos de Rhapsody in Blue e An American in Paris.

disque agora mesmo, 555 - 123 - GERSH-BABE

tratar com Nina-Nina, a Princesa Chiroptera de Lalalândia, desesperada.

atenção: é URGENTE.

Wednesday, January 10, 2007

 

insuficiência cardíaca

senhoras e senhores, vocês acham que eu não tenho coração? porque há um demônio no meu ouvido dizendo imbecilidades sobre falta de sentimento entre as minhas pautas, mas é justificável.
no momento, por exemplo: só estou sentindo uma vontade enorme de devorar uma orquestra, comose eu fosse um réptil gigante num ritual antropofágico, com seu garfo-e-faca e dentes afiadissississímos -- e aí, toda hora em que quisesse escutar uma música bonita, bastaria abrir a boca e as notas musicais sairiam flutuando como penas de travesseiro numa guerra, prático assim.

e tenho pensado muito em gatos-foguete e na máquina de escrever de bukowski. as letras pulando como suicidas, do teclado para a folha, as garrafas vazias no chão e o caderno amarelo, de poesias. e suas palavras sujas comendo meu cérebro como larvas fluorescentes de vagalume, e eu sorrindo.

vai saber. às vezes acordo amando tanto uma coisa, não sei explicar.

 

twinkle twinkle little star -- ato 2.

na verdade eu só queria falar sobre a estrela de belém, tão triste e tão longíqua em sua casinha de flores, louca para pisar nas minhas estrelas (que eu sei).

 

twinkle twinkle little star -- ato 1.

a estrela de belém ainda chora, pingando muda, e não posso fazer nada. ultimamente não tenho feito muita coisa, respiro fundo, balanço os pés, calço meias diferentes (uma listrada, uma roxa), conto até quinhentos, esperando esperando esperando não sei por quem e não sei o por quê. a inércia me mata com seus delicados mil-tentáculos de papel de arroz, com a serenidade de uma enfermeira noturna. preciso fazer algo por impulso agora mesmo, só poque quero provar que estou viva -- e que, além disso, não tenho medo de nada. não, não senhor, nem de lagartixas com caudas ejetáveis, nem de alienígenas que se comunicam através de palmas, nem do isolamento e do fracasso.

só não sei o que.

(toda a mobília olha para mim com toneladas de desprezo se acumulando nos aristocráticos olhinhos de madeira, sabendo que não vou fazer nada. pois não, pois não. me aguardem, malditos móveis.)

Tuesday, January 09, 2007

 

quanta casualidade.

e agora que não existe mais youtube, não sei o que vou fazer das férias. eu planejava nunca mais sair do quarto e assistir a todos os desenhos do mundo, episódios banidos do pernalonga, etc etc etc.

parece que vou ter de abrir a porta e encarar o bom e velho mundo agora, todas aquelas flores de asfalto pisoteadas, os hieroglifos nos muros, as pessoas dizendo o desnecessário.

ai ai.

 

flies won't lay their eggs.

olhos brilhantes, asas recém-pintadas. diálogos e mais diálogos do nelson rodrigues declamados para o teto e suas rachaduras como cicatrizes de machucados antigos, curados com band-aids multicor. está tudo errado, os morcegos estão do avesso cantando para musas invisíveis, o silêncio lá fora produz sons suspeitos e meu coração está vazio.

o coração em questão é um pingente que encontrei numa gaveta, um pingente que se abre em dois e aonde cabem duas fotos ou seja lá o que for, não o outro, o músculo cardíaco inquieto e apetitoso como maçã-do-amor.

nothing will spoil this.

Monday, January 08, 2007

 

i've got an eyepatch with a hole in.

não sei, não sei, tive um sonho estranho onde, toda vez que olhava pela porta do meu quarto, aparecia um pedaço de uma pessoa. uma cabeça flutuando sozinha, por exemplo, e depois pernas sem corpo, mãos sem braços, esse tipo de anormalidade. mas era até bonito, como uma festa de aniversário, porque todos os membros estavam embrulhados para presente, e o teto superlotado com balões dançantes, cheios de doenças infecto-contagiosas de bom grado.

acordei e me enchi de tédio. todas a vidas são monótonas assim, vazias, apáticas e suspensas como bolsas de soro em um hospital? e uma gota e depois outra como um dia depois do outro, pingando sem maiores manifestações.
oh, mate-me, Senhor, agora mesmo, quero ser arrebatada aos céus e voltar como um pirata, com um olho furado e sentidos apurados, então poderei navegar olhando as estrelas e saquear outros pobres navios e ter um papagaio cantor de ópera.

acho que vou pegar uma caixa de papelão e construir uma máquina do tempo, costuma funcionar nos desenhos americanos.

Sunday, January 07, 2007

 
e a noiva com seus cílios liliformes continua em silêncio, com o buquê murcho nas mãos, quase sonhando, ai ai, sorria, querida noiva, e eu toda boba, fazendo melodias com pernas de cadeira, sem conseguir respirar direito.

 

sunday is gloomy, the hours are slumberless.

disseram: domingo vamos ao MASP ver as telas impressionistas flutuando como bolhas diante dos olhos assustados.
mas hoje, quando acordei, metade da família estava aqui, rindo notas musicais altíssimas, devorando carnes obscenas, essas coisas de fim de semana. então passei o dia inteiro ouvindo histórias e mais histórias da minha tia e sua costela a mais (sim, juro: ela tem uma costela a mais, como um Adão ao inverso, algo anômalo e edênico), suas premonições macabras e os fantasmas com doces lençóis esfiapados, gritando onomatopéias de desenho animado, a arrastar correntes de plástico. adoro isso. mas meu penúltimo Golpe de Sorte caiu ontem pela janela como um suicida, e o último foi devidamente carbonizado, então não posso soltar fumaças espiralantes hoje, para o céu.

não sei porque, cigarros me lembram a Itália.

e voltei a ser uma alma feliz porque posso ouvir minhas músicas bobas, já que agora possuo soulseek. sério, porcos violáceos voam, de tão alegre que estou.

 

all these people drinking lover's spit

há alguma ave cantando canções de amor perdido como uma louca aqui perto, desafinando alegremente. minhas coisas jogadas pelo quarto, escondidas sob outras coisas, conversam sobre amenidades.
as fotos do teto estão descolando e estou obcecada com os episódios antigos da pantera cor de rosa e do mickey no youtube.
e a gata dorme no meu travesseiro sonhando em dominar o mundo (tenho certeza).

charlie sorri e sorri e sorri e me faz sorrir e pensar em botas de caubói e espetáculos de marionete.

algum dia eu serei realmente velha e vou lembrar de tudo isso e contar carneiros de algodão doce, dizer boa noite estrelas, boa noite comprimidos, boa noite tudo e roncar.

Saturday, January 06, 2007

 

e, se eu não me engano

tive algum tipo de sonho-pesadelo onde Sam, minha felina, reinava um lugar superlotado de arco-íris e quadrados castelo pálidos, e tudo o que eu fazia a irritava e ela estava a poucos centímetros de me mandar para a forca (e então seres de açúcar estariam embaixo, esperando cair o meu corpo semi-morto para enfiar nele garfos de feno e outras lâminas).

 

agora sim, o fatídico azar.

pois bem: agora sim tenho um cabelo esquisito, cor de caramelo, sou praticamente um sorvete. chove sem parar e estamos todos nos tornando seres encurvados, rabugentos, colecionadores de espécime raras de fungos mesmo quando sorrimos. meus olhos doem, minha cabeça dói como se dezenas de carros de brinquedo tivessem passado por cima dela e posso dizer seguramente que tenho o cabelo mais feio do mundo, hoje.

mentira, não tenho não. essa cor caramelada ficou até estilosa, pareço a Cher no clipe de shoop shoop song, só que mais albina e menos graciosa. minha mãe me maquiou como se eu fosse uma boneca e saímos do salão sorrindo aristocraticamente, por mais que eu tivesse ímpetos suicidas. cheguei em casa e aqui está a frase (aquela) em um post-it rosa, junto com os pôneis na parede e um tremendo vazio silencioso encobrindo tudo como o lençol de um fantasma.

bem, com licença, planeta, enquanto choro até secar. e quem diria? -- acho que você está me subestimando. preciso dormir mais algumas horas, inventar mais algumas mentiras doces e parar de pensar em distâncias, está começando a doer.

 

azar!

as luzes de natal que me servem de abajur piscando como em um cabaré angelical, os vizinhos e seus ruídos altos, os coelhos escondendo-se em gavetas, a abrir uns os corações do outros (apara encontrar apenas: sementes de frutas extintas). quatro horas da manhã e eu, de saltos e pérolas, repetindo aquela frase na frente do espelho sem conseguir parar de sorrir. aquela frase como uma tesoura refletindo as luzinhas, destruindo tudo como uma bailarina homicida.

tenho quase certeza de que ela estava simplesmente esperando que eu a encontrasse, entre milhares de letras obscenas que não faziam muito sentido.

isso muda tudo.

Friday, January 05, 2007

 

quit breathing.

e já que vou acabar sem comer nada mesmo, vou fazer colagens com formigas e florezinhas e pintar as unhas e vermelho-sangue-arterial, como se eu fosse uma diva decadente à moda antiga, e quisesse seduzir o leiteiro.
com sua licença.

 
ao viajante desavisado, já aviso: isto aqui não é uma ramificação mágica de HeyBang!Bang!, isto aqui é um relato detalhado e pouco interessante do dia-a-dia da sonolenta Nina Wonderbóia, senhora, dona deste blógue semi-secreto.

posso até falar sobre a minha adorável coleção de botões e sobre os discos antigos e enfeitadíssimos com ruídos rosa que vi no sebo, na última semana.

e eu até mesmo postaria fotos da minha ridiculamente redonda cara, se tivesse uma câmera -- mas, para sorte de toda a gente, não tenho. não mais. apenas um cadáver prateado guardado em uma das minhas mil gavetas. o que se há de fazer?

enfim.

 

O INÍCIO OU FAÇA-SE A LUZ

minha mãe está tomando banho de banheira com as bonecas quase feias de sua afilhada, minha arquiinimiga de quatro anos, F. -- com quem passo boa parte do dia disputando o cargo de mais barulhenta. estou tendo o primeiro surto de
apatia do ano, coisa e tal, mas pretendo vomitar meus vermes em alguma história boba sobre alguma menina com olhos redondos, tristes e reluzentes como colheres recém-polidas. (e dirão: sim, gostei da sua história dobre as
minhocas da apatia rastejando sobre Natalie e falando-lhe ao cérebro, mas parece um romance gótico para adolescentes -- e eu vou fingir que não me importo com as opiniões alheias, mas, durante a noite, subo até seu
telhado sorrateiramente e mato-o, bang!, sem piedade ou lágrimas.)

era uma vez um meuqueridoblógue que pretendo manter até que os meus pesadelos finalmente desapareçam em mesas trágicas de aniversário. (:

 
voltei a ter pesadelos.

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